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Otimismo, esperança e informação para guiar a ação

By 8 de Março, 2023Outubro 27th, 2023No Comments

Oito de março, dia internacional da mulher.

Uma data que carrega tanto simbolismo para nós mulheres. Já há alguns há alguns anos atuando em prol da equidade em diversos setores, trago comigo uma dose de esperança e otimismo.

Esses dois ingredientes me fazem ter vontade de fazer ainda mais. O terceiro ingrediente para semear esse futuro que sonho são informações sobre o tema, porque eles trazem norte para as necessidades e tornam as ações mais efetivas.

Dividi o artigo em duas partes: a primeira traz um olhar para três agendas prioritárias para a jornada rumo a equidade. A segunda possibilidades de como atuar em cada uma delas, considerando o setor privado – empresas, suas colaboradoras, as empreendedoras e também o setor público.

Quais as três agendas prioritárias quando falamos em uma jornada rumo a igualdade:

A primeira delas: mulheres e a tecnologia

Estamos vivenciando a 4a. revolução industrial. Na prática: vamos vivenciar um salto de inovação muito grande no mercado de trabalho. Big data, chat GPT, digitalização dos negócios são temas que vieram para ficar. Quem investir nisso, irá construir sua vantagem competitiva, escalar seus negócios e estar um passo a frente. As carreiras chamadas STEM – acrônimo do inglês para ciências, tecnologia, engenharia e matemática também irão crescer e terão salários mais atrativos. Hoje um negócio que está ligado a ciência, tecnologia e inovação chega a faturar até 25% mais.

O que vemos hoje é que quanto as mulheres empreendem os setores que elas buscam são aqueles mais tradicionais – 33% dos negócios liderados por mulheres estão em setores de baixo valor agregado como alimentos, moda e beleza, com menor potencial de inovação e que ainda investem pouco em tecnologia. Aliás é até comum ver uma mulher demonstrar até uma certa aversão pelo tema da tecnologia. O mesmo ocorre com as carreiras STEM: há uma menor presença de meninas e mulheres nessas carreiras, como se faltassem modelos ou até por acharem que o tema não é para ela.

Porém, tanto o salto tecnológico dos negócios quanto as carreiras STEM oferecem possibilidades de crescimento e alavancagem de carreira e, portanto devem estar no radar das mulheres.

 

A agenda política e a participação feminina

Ano passado mergulhei no centro da política e vi com meus olhos o que os relatórios de gap de gênero mostram: uma minoria de mulheres nos espaços de liderança política. De acordo com o relatório de Gender Gap do Fórum Econômico Mundial, o Brasil performa como 94o. no ranking geral de equidade para as mulheres. Quando o tema é empoderamento político, caímos para a 104a. posição.

A política: outro tema natural de aversão das mulheres.

Mas, e se eu te contar que mulheres são naturalmente políticas? Política trata dos interesses comuns, do todo. Mulheres hoje majoritariamente responsáveis pela economia do cuidado (cuidado da casa, das crianças e de pessoas que possuem necessidades especiais) estão todo tempo negociando, mediando conflitos, buscando interesses em comum e a satisfação do todo. Isso é a real política.

E se fossemos convidadas a participar de um outro jeito? Buscar os nossos incômodos nas nossas cidades, estados e nação e começar a encontrar soluções para eles? Foi assim que entrei no espaço político, atuando na sociedade civil em prol das mulheres e compartilhando reflexões (e perguntas profundas) nas mídias sociais.

A política partidária é também uma parte da política – que ao meu ver precisa de muita inovação para não termos quebras tão grande nas trocas de mandato que acabam impactando mais quem é mais frágil no tecido social. Tenho certeza que mais mulheres candidatas, eleitas mudariam completamente a regra do jogo e são capazes de trazer um escopo mais amplo para a tomada de decisão.

Mulheres e acesso ao dinheiro

Meu tema favorito ultimamente, confesso. Favorito justamente porque não tenho quero quantificar tudo ou reduzir tudo a uma questão de dinheiro, mas justamente porque dinheiro é meio. Meio para alcançar os sonhos, para o empoderamento total como indivíduo. Infelizmente culturalmente as mulheres falam pouco de dinheiro e sentem que o tema não é para elas. Não se trata de uma generalização: no Brasil temos cerca de 34 milhões de pessoas sem acesso a bancos, 59% delas são mulheres. Ainda há muito espaço para mulheres se relacionarem mais com dinheiro e geração de renda e não deixar apenas para quando acontece alguma questão como um divórcio ou falecimento para serem chamadas de maneira compulsória a se envolver no tema.

A minha provocação aqui é a seguinte: nós mulheres somos excelentes cuidadoras. Que tal estendermos o cuidado ao dinheiro? Pode ser muito gostoso se olharmos para ele como meio. Cuidar do dinheiro não é sobre entender as últimas tendências do mercado financeiro e todos os seus jargões, mas sim sobre se conhecer profundamente. É isso mesmo: é sobre autoconhecimento e planejamento de futuro. Uma vez sabendo quais os próximos passos, o dinheiro e que tipo de investimento, mudança de padrão de consumo são apenas um reflexo.

Para os negócios, mulheres tendem a não olhar para crédito como ferramenta estratégica de crescimento. Crédito não é dívida. Crédito pode ser o fôlego que seu negócio necessita para o próximo salto. A escolha do crédito como ferramenta precisa estar integrada num plano estratégico de negócios. Mais uma vez: sobre autoconhecimento e conhecimento do negócio e não apenas sobre que tipo de crédito e qual a sua finalidade.

Enfim chegamos a segunda parte do artigo. A minha favorita: a prática. Porque é nela que podemos lançar as sementes de participação em uma realidade mais favorável.

Mulheres e a tecnologia: como avançar?

Começando pelas mulheres que são CLT ou funcionárias públicas: que tal olhar a tecnologia como uma maneira de se manter atualizada e buscar maior realização? Trazer foco no intra-empreendedorismo: trazer soluções e inovações para seu próprio dia-a-dia de trabalho é uma maneira incrível de se desenvolver e de usar a criatividade, além de trazer benefícios para a carreira. Também recomendo um olhar estratégico para as suas mídias sociais, mantendo-as atualizadas. O LinkedIn pode trazer excelentes oportunidades de novos contatos e as outras mídias como Instagram ou Tik Tok podem ser úteis como maneiras de desenvolver um novo hobby.

Para as mulheres que empreendem, a sugestão é se perguntar qual o próximo salto. Se você já vende pela internet, que área da empresa pode automatizar? Outro tema interessante é olhar para inovação: qual o próximo salto de inovação do seus produtos e serviços? Quais os benchmarks você pode fazer do seu setor e de setor correlatos? Esse mergulho na tecnologia pode render também muito espaço para sua criatividade viajar longe.

Os gestores públicos também vão se posicionar de maneira distinta se olharem essa agenda com carinho. E por que não unir forças com as empresas trazendo soluções focadas em desenvolvimento econômico das comunidades, empregabilidade e desenvolvimento das competências de tecnologia em escolas? Minha cabeça já desenha muitos projetos, num formato ganha-ganha.

Mulheres e a política

Se política começa no coletivo, a ação é sobre o coletivo. Sobre escuta. Isso vale para todos os setores.

Como pessoas, a minha recomendação é investir na prática conversacional com o maior número de pessoas sobre temas coletivos, começando com nossas casas, nossos bairros. Ouvir pontos de vista diferentes, em especial aqueles que não necessariamente concordamos é algo muito rico. Isso expande nosso pensamento crítico, amplia nosso repertório, traz profundidade e nos fortalece como cidadãos. Com o tempo e de acordo com nossa jornada pessoal algum tema aparece para a gente e somos chamados a agir.

Para quem empreende eu sugiro participar de redes de empreendedores, de associações e se envolver. Além de fortalecer o networking, esses espaços ampliam nossas possibilidades e a nossa compreensão das interseções dos diferentes segmentos de mercado, do setor público com nosso setor, de quais são os incômodos, as possibilidades.

Para as empresas um ganho é investir no desenvolvimento das lideranças para que sejam capazes de ler o mercado, as tendências e com isso desenhar cenários de futuro para suas áreas. Como? Dedicando tempo a treinamentos, estimulando a participação em redes e fóruns e trazendo um pouco de espaço para a agenda das necessidades do mundo ser discutida nas quatro paredes da empresa. Um ganho imediato: maior espaço para a inovação. Com lideranças preparadas, começar uma discussão com a sociedade, com as partes interessadas e com o setor público. As mudanças que sonhamos estão por vezes a uma conversa de distância.

A relação com o dinheiro e as mulheres:

Num nível individual: a pergunta que faço é: como ficar mais próxima do seu dinheiro? Pode começar com planilhar gastos, mensais, desenhar seus sonhos dos próximos 1, 3 e 5 anos – trocar de carro, comprar uma casa, fazer uma viagem –e começar a pensar na viabilidade econômica e no quanto você precisa economizar para viabilizar. Outro passo que recomendo: contar com a ajuda de uma planejadora financeira para atuar como sua mentora nesse desenho e projeção

Com relação ao setor privado:

Para as empreendedoras: como dar um salto rumo a um olhar mais estratégico das finanças do seu negócio: por exemplo, pensar que investimento faria crescer e que crédito seria necessário para viabilizar o investimento, profissionalizar a gestão, fazer um curso…

Para as empresas: e se a educação financeira fosse parte da sua estratégia? Pode começar com uma ação de treinamento para o público interno, com foco nas mulheres e depois se estender para a comunidades. Se a sua empresa é do setor financeiro, há um oceano azul para atuar no tema – que representa muito lucro como consequência e geração de valor para a marca a longo prazo. É que a tal estratégia de ESG quando bem-feita é diferencial.

Com relação ao setor público: há muito que pode ser feito. Se eu tivesse uma varinha mágica eu trabalharia em dois temas chave como cerne das políticas públicas: oferta de vagas em creches – que podem ser novas creches, parceria público-privadas e outros instrumentos inovadores –  para que as mulheres tenham tempo para pensar em empoderamento econômico e em políticas que erradiquem a violência contra mulheres e meninas. Por hora 26 mulheres sofrem agressão física e a cada dia três são vítimas de feminicídio. Infelizmente esse ainda é um câncer da nossa sociedade que precisa ser curado para enfim termos os avanços que sonhamos rumo a uma nação com real equidade.

Quantos sonhos possíveis em um artigo – que ele possa inspirar a ação em diversos espectros da nossa vida individual e coletiva.

De onde eu falo: construir futuros mais bonitos é o meu negócio. Já atuei em projetos premiados de equidade de gênero em distintos setores e ano passado atuei no setor público, liderando o desenho e a implementação da Estratégia Nacional de Empreendedorismo Feminino e de uma estratégia de ponta a ponta desde o combate à violência até a independência econômica na Caixa Econômica Federal.