Já havia alguns dias que esse texto estava sendo germinado e apareceu para mim com o seguinte título em inglês: the love of power and the power of love. Antes de iniciar a sua leitura, sugiro que você se conecte com a energia do amor. Feche os olhos e pense em alguém que você ama muito como sua mãe, filhos, a natureza.
Nesse ano de 2022 eu assumi uma função pública e minha vida mudou muito. Mudei de cidade, amadureci muito, conheci um Brasil profundo, um pouco de como funciona a articulação política e tive acessos que outrora eu jamais imaginaria ter tido. Fiquei, estive e estou muito próxima ao poder. Estar próxima ao poder me traz privilégios e responsabilidades muito grandes. O maior privilégio: fazer as perguntas profundas que quero fazer para quem tem o poder de mudar a história por meio de sua liderança e agir. Esse é meu maior poder e exerço com todo meu coração.
Há precisamente um mês atrás eu tive a oportunidade de conversar com um bilionário que decidiu doar em vida a sua fortuna. Tête-à-tête ou ainda olhando no olho. Dentro da Nova Economia há um questionamento profundo do papel dos bilionários – a que custas eles acumularam suas fortunas – e que esse seria, portanto, um ponto cego do nosso modelo econômico atual. Eu já escrevi muito sobre isso e parto de outro princípio: dado que existem bilionários, qual é a responsa-habilidade deles em um mundo com tanta desigualdade? E o papel do papel do estado, qual seria?
Enfim, voltando à conversa… A pergunta que fiz a ele foi: o que fez você tomar a decisão de doar em vida?
Os próximos instantes vão ficar marcados para mim assim como esse dia. Seus olhos brilham. Ele faz uma pausa. Respira. Eu prendo o ar. Nesses mini instantes entre a pergunta e a resposta eu calculo a minha audácia: será que eu poderia perguntar isso? E agora? Volto ao meu corpo, faço uma checagem… minha pergunta vem do meu coração e não da minha mente. Volto a respirar mas não sei o que esperar da resposta.
Ele sorri e responde de uma maneira plácida: Deus falou comigo.
Respiro fundo e guardo esse instante. Vejo Deus nos seus olhos – e aqui pode colocar outra palavra para representar Deus ou uma força maior. Celebro a beleza que é ver Deus nos olhos de alguém.
A conversa segue: Carol, também foi uma escolha egoísta: quero pagar em vida minha responsa-habilidade. Assim, em outra vida, quando voltar, quero voltar mais leve. Pensei: leve como um passarinho. O diálogo seguiu e passou por palavras de sabedoria dizendo que quando fazemos o bem, estamos agindo em nome de Deus e quando não agimos, estamos sendo cúmplices do mal.
Agradeci a minha audácia que fez a pergunta e me levou para esse diálogo tão encantador.
Em um lugar bem pessoal essa conversa foi muito marcante: ajudou a entender nas profundezas quem eu sou e que faísca é essa que me move todos os dias querendo construir um mundo mais bonito. Isso sempre esteve em mim, e aos poucos foi sendo nutrido, encontrando maneiras – nos negócios de impacto, no empreendedorismo, no ensino da Nova Economia – de germinar e florescer. É potente quando encontramos nos outros características que temos em nós. É potente demais quando vejo um líder ocupando o papel da real liderança que é agir para mudar o mundo para melhor.
E… a jornada para construir esse mundo mais bonito tem muitos percalços.
Uma pessoa muito sábia me dizia que o poder vicia cem vezes mais que a cocaína ou qualquer outra droga. Com o olhar treinado e quando estamos no nosso centro, aprendemos a olhar e discernir quem está inebriado pelo poder. Quem joga o jogo dos interesses próprios e da corrupção, quem valoriza mais um cargo que um bom argumento. O jogo do poder e sua dança.
Nesse segundo caso, entramos no amor ao poder: é quando uma pessoa vira um cargo. Só não sabe que vira refém dele. No início da minha carreira convivi muito de perto com um líder muito especial, que ocupava um cargo altíssimo na empresa que eu trabalhava. Por algum motivo na dança do poder ele foi preterido a uma posição no exterior, colocado numa posição de baixa visibilidade e na seqüência demitido. Pouquíssimo tempo depois, faleceu de câncer. Pode ser que não haja correlação de nada nessa história. E se houver? Meu corpo diz que houve e eu vi de perto alguém que eu admirava murchar e partir. Não tive o tempo de fazer as perguntas que queria ter feito nesse caso.
Mas fiquei com a lição para a minha jornada pessoal: valorizar as relações e não os cargos, ter a coragem de fazer as perguntas, fazer as perguntas no presente porque no futuro pode ser tarde, acreditar e olhar para as pessoas, não julgar ninguém, não esquecer de onde eu vim e para onde vou e celebrar cada instante.
Falando em celebrar:
Eu guardei esse texto a ser escrito um mês depois de um sonho realizado: o de reunir o setor privado e o público ao redor de uma causa – o combate da violência contra mulheres e meninas – e fazer uma enorme articulação para mudar esse cenário e os duros números do Brasil – 60% das meninas até 12 anos sofrem algum tipo de violência sexual, 1 em cada 4 mulheres no Brasil é vítima de violência doméstica.
Mas esse foi só o primeiro passo dessa jornada, que já conta com um plano de ação que está sendo materializado com muitas mãos e corações. Nesse dia eu vi o poder do amor triunfar e sentar junto com o amor ao poder para sustentar uma conversa.
Esse é o trabalho invisível que eu também faço. Que vai muito além do meu crachá – aliás todo dia eu acordo e me lembro que nunca precisei de um crachá para defender a igualdade ou para ir para a África ou para o interior do Brasil falar de empreendedorismo como ferramenta de transformação para mulheres. Esse é o tal poder do amor: sustentar na ação aquilo que acreditamos de verdade.
Escrevo para que esse texto te conecte com o seu poder e que você saiba discernir a que ele serve. Acredito que quando despertarmos para o poder do amor que habita no coração de cada indivíduo, somos capazes de sonhar e materializar um Brasil melhor para as meninas, mulheres e para todo Brasileiro. Termino com essa frase do Tim Jackson: “a prosperidade é um empreendimento compartilhado. Suas raízes são longas e profundas. Sua essência, já existe dentro da de cada um de nós.