Nova Economia

Necessidades humanas fundamentais

By 28 de Fevereiro, 2021Outubro 27th, 2023No Comments

Não há como falar em economia sem falar em atender às nossas necessidades. Não consigo falar de economia sem trazer as palavras do Max-Neef porque para mim sua obra foi e é um grande divisor de águas.

Max Neef: a pessoa que me fez chorar lendo um livro de economia

 

O chileno Manfred Max-Neef estudou economia e fez carreira como funcionário da empresa Shell. Em 1957, ele saiu da indústria e se dedicou a estudar os problemas dos países em desenvolvimento. Ele trabalhou para organizações da ONU e em várias universidades dos EUA e da América Latina. Inspirado pela obre e pelo imperativo de E.F. Schumacher “small is beautiful”, ele desenvolveu uma tese que chamou de “economia descalça” e “economia em escala humana”, cujos critérios ele já definiu na década de 1980 em uma matriz que engloba dez necessidades humanas básicas. Nos anos 90 ele formulou o que chamou de hipótese do “limiar”: a ideia de que, a partir de certo ponto de desenvolvimento econômico, a qualidade de vida começa a diminuir.

Max-Neef é chileno e justamente nessa obra dele chamada Desenvolvimento à Escala Humana ele traz uma dimensão que é rara de encontrarmos nos livros de economia que tem a ver com países que tiveram um processo colonizatório e como isso influencia até hoje nossa auto-estima e autoconfiança. É como se precisássemos resgatar nossa autoconfiança para ter orgulho do que é nosso e não valorizar tudo aquilo que é de fora.

Escala humana tem a ver com a gente não se alienar da economia (ou seja, achar que a gente está fora dela). Mais uma vez, aqui nós brasileiros temos muito o que aprender com ele.

 

 

Justamente voltando nessa questão de amplificar o olhar, uma das teorias que o Max Neef sistematizou trata das necessidades humanas que ele nomeia necessidades humanas fundamentais.

Como ele fez isso: Max-Neef desenvolveu um método para apreender os verdadeiros desejos e necessidades de pessoas simples.

O objeto da sua pesquisa para compreender as necessidades é exemplificado pelo ato de uma mãe amamentar seu bebê: um recém-nascido tem uma necessidade básica, de subsistência. A satisfação se encontra ao ser amamentado, ato que por sua vez desperta outras necessidades, como proteção, amor e identidade, e simultaneamente estimula sua satisfação.

Poucas, finitas e classificáveis: não somos consumidores, somos pessoas.

De acordo com esse modelo, Max-Neef constrói uma matriz básica com nove necessidades fundamentais , conectada com quatro categorias de satisfação de necessidades. As nove necessidades fundamentais são: subsistência, proteção, afeto, compreensão, participação, lazer, criação, identidade e liberdade. As quatro categorias correspondentes ao nível de satisfação são: ser, ter, fazer e estar.

Seguindo o esquema, se obtém uma matriz com 36 campos.

 

E como satisfazemos nossas necessidades? Por meio de satisfadores, pseudo satisfadores e satisfadores sinérgicos.

Satisfadores são ações ou coisas que atendem às necessidades. Satisfadores sinérgicos são aqueles que satisfazem ao mesmo tempo mais de uma necessidade.

Pseudo satisfadores são ações como por exemplo armamento, que gera uma sensação de atender à necessidade de proteção, mas diminui a satisfação de outras necessidades, como subsistência, afeição, participação ou liberdade;

O nacionalismo extremo também é um caso de pseudo satisfador, ao oferecer identidade, mas destrói outras áreas; o paternalismo impõe proteção, mas à custa da compreensão, participação, liberdade e identidade.

O que eu proponho? Que você revisite essa matriz. Reveja como você tem atendido suas necessidades. Use-a para conversas em família, para revisitar seus planos e sonhos. Afinal, nas próprias palavras do Max Neef:

“Vivemos em um período de transição que significa que mudanças de paradigma não são apenas necessários como indispensáveis.” — Max Neef

Portanto, esse é um convite para você escrever sua própria biografia, respondendo à pergunta: o que realmente te faz feliz?